Comeram meu cartão em Carcassone!

O título diz tudo.
Situando: Final de janeiro, visita do Renan e do Caio à minha cidade. Meu dinheiro concentrava-se no meu VTM (Visa Travel Money) e o meu dinheiro de reserva, que meu pai muito sabiamente pediu que eu separasse.
Carcassone fica a duas horas de trem da minha cidade, tenho boas lembranças de lá. É uma cidade linda, não tenho ressentimentos. O atendimento bancário é uma bosta! Ainda sem ressentimentos.
O impressionante nessa cidade é o complexo medieval, que consiste em uma pequena cidadezinha murada, com torres, restaurantes, pracinhas, casinhas, um castelo, uma igreja e uma arena. Depois de atravessar a primeira ponte e entrar pelos portões deparei-me com uma pequena rua, estreita e um pouco íngreme, toda feita de pedras. Me senti dentro daqueles filmes de guerreiros medievais e tive a imagem de um exército vitorioso em cima de seus cavalos passando pelas muralhas. Cena um pouco Hollywoodiana eu sei, mas não deixa de ser fantástico!
A cidade de Carcassone foi ocupada pelos povos Celtas, Galo-romanos e Visigodos.
Hoje, o que vemos é a restauração da cidadela por Violet-le-Duc. No séc. XIX o conjunto foi descoberto por turistas ingleses e durante a Segunda Guerra Mundial foi usado como campo de prisioneiros.
Como disse, é visível a restauração da cidadela, a fortificação não é a mesma desde a Idade Média. Foi reconstruída acrescentando-se, por exemplo, sustentação à algumas partes e liga entre as pedras. Nota-se ainda algumas pontes de madeira que visavam imitar a formação original.

Antes de entrar na cidadela fui a um caixa eletrônico sacar dinheiro. Coloquei o VTM lá e, como sempre, esperei para efetuar a operação e meu cartão voltar. Ocorreu uma falha na operação, então só esperei o cartão voltar. Ele não voltou! Engoliram meu cartão! A máquina engoliu meu cartão!
Ainda consigo me ver gritando desesperada ao Caio e o Renan:
_ OU, A MÁQUINA ENGOLIU MEU CARTÃO VEY!
Minhas esperanças então concentraram-se todas no banco ao lado, "dono" do caixa eletrônico. Renan foi conversar com a mulher do caixa. Depois de sair do banco ele me explica que eles disseram que quando o pessoal que abre a máquina vem, o cartão é enviado à agência. Eles não sabem quando a máquina é aberta, pode demorar dias.
Resumo: Eles não podem fazer bosta nenhuma.
Surpresa: Isso acontece com alguma freqüência, de acordo com a atendente.
Eu simplesmente não consegui acreditar, meu sangue ferveu e eu mesma fui conversar no caixa.

__ La machine a mangé ma carte! Que'est que vous pouvez faire?
__ A máquina comeu meu cartão! O que vocês podem fazer?

__ Je dit a ton ami. Je ne peux faire rien.
__ Eu disse a seu amigo. Eu não posso fazer nada.

__ Mais... c´est impossible! Il y a quelque chose que vous pouvez faire!
__ Mas... isso é impossível! Tem alguma coisa que vocês podem fazer!

__ Non.
__ Não.

__ Il faut avoir quelq'um que vous pouvez appeler pour ouvrir la machine!
__ Tem que haver alguém que vocês podem chamar para abrir a máquina!

__ Non.
__ Não!

__ Mais!... Non! Qu'est que je vais faire!? Je n'ai pas d'argent!
__ Mas!... Não! O que eu vou fazer?! Eu não tenho dinheiro!

__ Je ne peux pas faire rien.
__ Eu não posso fazer nada.

__ C'est impossible! Tu es FOU!?
__ É impossível! Você é doidO!?

Sim, eu xinguei a mulher, e pela indiferença com a qual ela me tratou devia ter xingado muito mais. Mas... para xingar em francês era melhor que eu tivesse usado as conjugações certas.

__ Arrête de dire que je suis FOULE! Parce que je ne suis pas FOULE!
__ Pare de dizer que eu sou DOIDA! Porque eu não sou DOIDA!

__ Je vais appeler la police!
__ Eu vou chamar a polícia!

Meu sangue fervia, eu não tinha dinheiro e sabia que não podia chamar a polícia, na frança não existe procon e o atendimento é uma bosta!
O que mais me indignava era o fato do caixa ser do próprio banco e eles não poderem ligar para quem normalmente abria, ou seja, o mesmo cara que tirava e colocava o dinheiro na máquina. E me indignava mais ainda ela ter dito que eu não era a primeira.
Pensei várias vezes em quebrar aquela máquina com um cano de metal no chão, mas o pensamento felizmente fugiu e o Caio me disse que o cartão do amigo dele chegou rapidinho quando aconteceu isso. Felizmente o cartão chegou mesmo, tinha uma espécie de seguro de viagem.

Renan: Por que você não xingou em português? Até sentei no banco da agência para ver o barraco!
Eu: Nossa! É mesmo! Não sei.

Aquela era uma oportunidade perfeita para deixar uma mal-educada, indiferente e incompetente passar o dia pensando no que eu tinha falado. Infelizmente, ou felizmente, deixei a oportunidade passar.
Ainda penso que seria engraçado a cena da mulher procurando no google que raios é "vai pra puta que pariu!".