O pedaço que eu arranquei


Deixa como está que é melhor assim.

Meu coração já sentiu tanto que minha mente muitas vezes não reage aos sentimentos. Eu já não sei querer, não sei gostar. Pelo menos não assim. Senti tanta paixão que fui anestesiada.
Eu me lembro do dia. Foi ao som de Lifehouse entre soluços e lençóis na escuridão do meu quarto. É verdade que eu não achei que fosse acontecer, mas eu escolhi. Escolhi não ceder à dor, escolhi sair do apagão ainda que precisasse arrancar meu peito fora, ainda que precisasse tirar o sentimento à força.
E foi assim que tirei um pedaço de mim. Um pedaço adolescente, entregue e imaturo, confesso. Mas também um pedaço meu. Um pedaço que era capaz de se entregar, de se deixar levar pelas ilusões, um pedaço que ouvia as palavras e acreditava. Um pedaço que era capaz de sonhar com pessoas e amores.
Eu juntei os caquinhos, os restos duros de estilhaços.

Quando reconstruí meu coração já não vi o tal pedaço. Deve ter ficado debaixo da cama. Sei que para encontra-lo vou precisar tatear, na escuridão. Mais uma vez.

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