Uma pena, realmente, uma pena

É um pouco desanimador pensar em como, à medida que crescemos, deixamos de ter acesso aos mundos fantásticos que criamos. Quando criança é tão fácil vê-los. Os portões e passagens secretas estão por todo lugar. A parede vira uma fortaleza facilmente, cada coisa no chão é uma pista e estamos cercados de missões maravilhosas.
Lembro de um sofá grande de madeira que ficava na parte de fora da minha casa. Eu e um amigo subíamos no grande barco. Na mão tínhamos mochilas cheias de suprimento e nossos remos. Era preciso enfrentar um mar gigantesco, no qual não podíamos cair. Nas mochilas eu tinha corda, lanterna, fruta, biscoito, doce e brinquedos. Os remos não passavam de vassouras, já que, afinal, não tem nada mais multiuso do que vassouras quando se é criança.
Pode ser uma espécie de nostalgia, mas me senti um pouco triste em pensar que agora todos os armários tem fundo e a lógica me faz saber que logo atrás só existe parede. Não posso mais passar por espelhos e não vejo as gavetas como esconderijo, há muito não posso nem tentar. Ainda não sei se felizmente, ou infelizmente, não me escondo mais pelos cantos da casa tentando atravessá-la sem ser vista. Me lembro bem como isso era importante quando era pequena Era meu grande desafio. Dei muito trabalho porque assustava quem minha mãe contratava para ajudar na casa. Não estavam acostumadas.
Quando crescemos a realidade se torna tão concreta que fica difícil imaginar algo diferente. Nosso mundo se limita ao que é comprovado cientificamente. Já não acreditamos que podemos ser o que quisermos ser e o impossível torna-se inacessível, afinal, é impossível.
Quando criança não entedia muito bem a tristeza profunda e nem a depressão. Para mim era só brincar, imaginar mundos, pegar palitinhos, fazer bonequinhos e contar histórias, que tudo estaria resolvido. Havia um mar de possibilidades e nada podia ser mais prazeroso que isso.
Agora entendo melhor o desenho "Peter Pan". Quando crescemos já não conseguimos enxergar o navio voando pelo céu, ou acreditar em pó que faz voar. Lembro-me de um filme, cujo nome me foge da mente, em que um personagem dizia "A vida é um parque de diversões, mas quando crescemos, esquecemos disso".
Uma pena, realmente, uma pena. Tenho certeza que debaixo da minha cama ainda existe um mundo onde tudo é possível.

Comentários

  1. Nao podia ser mais verdade. Todo armário tem fundo... nao podia ser mais verdade.

    =) Falou bem Clarice, e eu entendo. Eu me identifico. As coisas que eu fazia quando era crianca.... se pudesse fazer hoje de novo.

    Pra comemorar a nostalgia (Toda crianca ja bincou do chao ser feito de lava):
    http://xkcd.com/735/

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  2. Aaaaaaaaah! Quero meus esconderijos secretos de volta!

    Mas acho que minha mãe não deixa mais =/

    Uma pena, realmente uma pena, mesmo!

    Lindo texto amore ^^

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