Alguém salve o mundo

O gato atravessou a rua. Ou pelo menos tentou. O gato estava, de fato, desesperado. Quase não o vi, de tão pequeno. Ele fez que ia. Tentou voltar.
Olha o gato! Para o gato! Espera o gato! Parem o carro! Ah! Vão matá-lo!
E mesmo agora, me dói as entranhas contar.
Parou um, parou dois, lá vem o terceiro, depressa, descendo a avenida.
Me desculpem, mas essa história eu não consigo, e nem posso, florear. Pois ela é dura, como as carcaças de metal que andam nas ruas. O gato viveu, foi por pouco. E não sei dizer quantas ruas mais ele foi capaz de atravessar. Ainda que eu houvesse sentido alívio, não passava de momentâneo.
Ele chegou à calçada e continuou sua corrida em meio ao caos.
Pena que o nosso caos não entende os gatos, e os gatos não entendem o nosso caos.
Alguém, por favor, salve o gato.
Alguém pare o carro.
Alguém salve o mundo.

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