Desabrochar de março

Foto por Felipe Augusto Viana

Em uma flor loura desabrochara meu março, meu começo de mundo, começo de vida.
Depois de uma noite em febre, na qual eu fora vítima da gripe que assolava a cidade, fui levada pela minha ávo à missa matinal, onde ela pediria por mim. O sino soava fantasiando as luzes multicoloridas e quentes que entravam por entre os vitrais da igreja. Meu corpo pequeno tremia de frio e doença, murchava.
Saí para olhar as flores que coroavam o rio. Uma ave passava rasante pelo silêncio. Foi quando o vi. Um menino também pequeno de uma cidade pequena, não longe dali.
Durante a missa não pude ouvir o padre, nem as gaivotas, o piano ou o sino.
Foi-se a febre e o frio.
Ouvia apenas o som de fim de março, um prenúncio de vida, a flor da manhã, o menino e meu primeiro amor.

Clarice Cerqueira

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